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Eneida Assis
Eneida Assis, uma excelente etnóloga. Uma das principais pesquisadoras dos povos
indígenas da Amazônia. E, acima de tudo, ela era uma pessoa amiga e sonhadora. Formada em
História (UFPA) e Antropologia (UNB) teve a oportunidade, ainda como estudante, de conhecer
e interagir com pesquisadores renomados do Museu Goeldi e da Universidade Federal do Pará,
isso lhe possibilitou tornar-se uma antropóloga idealista e que mantinha, ao mesmo tempo, o
senso crítico refinado e a lucidez para agir com cautela e ousadia.
Foi líder do GEPI - Grupo de Pesquisa sobre Populações Indígenas e coordenou o OEEI -
Observatório de Educação Escolar Indígena do Territórios Etnoeducacionais Amazônicos.
Eneida era também uma política não apenas na teoria, mas principalmente na prática. Seu
doutoramento em Ciência Política (IUPERJ) permitiu-lhe o aprimoramento teórico do que já
fazia e conhecia empiricamente. Eticamente tornou-se uma das grandes pesquisadoras e
apoiadoras das causas indígenas. Uma grande guerreira. Por conta desse comprometimento as
lideranças destes povos reconhecem o quão importante ela foi nas suas conquistas. Foi batizada
de Kiavnu por estes povos, que a respeitavam e a admiravam.
Era uma excelente contadora de histórias e suas narrativas recheadas de misuras e caretas,
imitando as pessoas ao relatar uma conversa ou episódio. Sua voz e seu corpo se transformavam
nesse instante. Gostava de usar expressões populares ao mesmo tempo em que citava autores e
autoras clássicos e contemporâneos das ciências humanas. Citava ainda exemplos de áreas de
conhecimento aparentemente díspares.
Eneida Assis dava conselhos, usando exemplo de vivências de outras pessoas ou aquilo que fora
vivenciado em seu trabalho de campo. Sua mente era ágil e estava sempre disposta a aprender e a
ensinar. Quando não sabia e não conhecia algo, colocava “os cachorros no mato” para não “ser
lesa” em suas estratégias e ações. E observava, ouvia, aprendia com todos e com tudo. Nunca
desistia de lutar e conseguia suportar as adversidades e adversários.
Eneida deixa saudade. Mas também ensinamentos, lições, iniciados e iniciadas que a manterão
viva pra sempre em nossas pesquisas e em nossos corações.
Texto: Denise Cardoso